Co-morbilidade

(co-ocorrência de duas ou mais disfunções no mesmo indivíduo)

As perturbações do espectro do autismo podem concorrer com uma variedade de outras perturbações do neurodesenvolvimento. A elevada taxa de co-morbilidade verificada nas perturbações do espectro do autismo complicam o diagnóstico diferencial, agravam o prognóstico, exigem medidas de intervenção específicas. Uma vez que os sintomas, resultantes destes distúrbios adicionais, podem constituir um grande fardo para os sujeitos e famílias afectados e reduzir o funcionamento do indivíduo

de uma forma significativa, é essencial tê-los em consideração no processo de avaliação e no plano de tratamento.

Assim, existem vários distúrbios que podem estar associados à perturbação do espectro

do autismo, nomeadamente:

Défice intelectual

60-75% dos sujeitos com autismo são intelectualmente incapacitados, sendo que metade dos mesmos se situa no grupo com funcionamento da deficiência mental ligeira e mode rada e a outra metade no grupo de deficiência mental grave e profunda.

Epilepsia

♦ Entre 7-14%

das crianças com autismo sofram de epilepsia, podendo aumentar na idade adulta.

11-39% das crianças com perturbações do espectro do autismo podem sofrer de convulsões (ma

is frequentes nos indivíduos com menor capacidade funcional).


Problemas auditivos e visuais

¼ desta população apresenta défices ligeiros.

A surdez grave é menos frequente, estando descrita em 3-4 % dos casos.

Cerca de 1-2% da população do espectro autista, possuem défices visuais graves (displasia septo-ópti

ca, atrofia do nervo óptico, retinite pigmentar).


Problemas sensório – motores

Muitos indivíduos podem desenvolver alterações na marcha, movimentos atáxicos e “desajeitados ”.

Algumas crianças, sobretudo na idade pré-escolar, revelam hipotonia, ataxia, apraxia dos membros, laxidez ligamentar, inabilidade motora e marcha em “bicos de pés ”.

Indivíduos com quociente intelectual baixo, podem evidenciar dificuldades da motricidade global e fina.

Cerca de 42-88% dos indivíduos com PEA apresentam anormalidades na capacidade de processamento sensorial.


Outros problemas: neuropsiquiátricos, do comportamento, do sono e da alimentação

As alterações de humor, a depressão e a ansiedade são os quadros psiquiátricos que mais vezes estão descritos.

44-57% dos adolescentes e adultos podem vir a desenvolver depressões.

Outras patologias como a esquizofrenia, os comportamentos compulsivos, a hiperactividade com défice de atenção, os tiques e a síndrome de Gilles la Tourette também são descritas com frequência em indivíduos com PEA.

Num estudo português, foram assinaladas em cerca de ¼ da população autista em idade escolar, alterações comportamentais do tipo da agitação psicomotora, da hiperactividade e/ou agressividade.

Cerca de metade das crianças com PEA, desenvolvem problemas de sono (dificuldade em adormecer, acordar durante a noite, padrão de sono irregular, redução do período de sono nocturno e o acordar precoce).

Um estudo recente refere problemas de selectividade, no tipo ou na textura dos alimentos, em cerca de metade das crianças com PEA.