Dificuldades no Desempenho Ocupacional de crianças com Perturbação de Espectro Autista

Segundo a ENOTHE, o desempenho ocupacional permite ao indivíduo escolher, organizar e realizar ocupações/actividades/tarefas em interacção com o meio envolvente. Contudo, nem sempre as competências de desempenho ocupacional (capacidades e competências, organizadas em categorias físicas, cognitivas, psicossociais e afectivas, que possibilitam e afectam o envolvimento em tarefas, actividades e ocupações (ENOTHE)), em conjunto com o contexto que envolve o indivíduo (relação entre o ambiente, os factores pessoais e os acontecimentos que influenciam o significado de uma tarefa, actividade ou ocupação para a pessoa que a desempenha (ENOTHE)), possibilitam, permitem um bom desempenho nas ocupações que são mais significativas para o sujeito. E é a este nível que o Terapeuta Ocupacional deverá intervir, promovendo a participação do indivíduo no que lhe é mais significativo.

Todas as características que são peculiares a cada uma das Perturbações de Espectro Autista impõem restrições no desempenho ocupacional destas crianças. São notórias falhas no desenvolvimento das amizades e respectiva diversificação, levando, consequentemente, ao insucesso do envolvimento em certas actividades, tal como o jogo colectivo, e até mesmo a aprendizagem em situações de grupo. O facto de as suas competências de comunicação estarem afectadas agrava ainda mais as perturbações nas relações sociais, entre outras.

Todavia, apesar de as componentes de desempenho de crianças que padecem de PEA serem bastante limitadoras, o meio que envolve este tipo de crianças também restringe a participação das mesmas: sofrem as consequências dos rótulos que esta lhes coloca, usualmente, os colegas não gostam de brincar com eles, afastam-se e evitam-nos, porque muitas vezes, tendem a impor nos jogos regras peculiares, não convencionais, gostam que se brinque de uma determinada forma, sendo frequentemente discriminados pelos pares. Na idade adulta a recusa de oferta de emprego é outra realidade com a qual estes indivíduos se deparam, não lhes sendo dadas oportunidades para se integrarem na sociedade, são julgados e pensam que são incompetentes (o que ajuda a que haja perda de esperança e uma maior baixa auto-estima e, consequentemente, desinvestimento neles mesmos).Quando encontram emprego, têm dificuldades em enfrentar mudanças nas condições de trabalho. As qualidades que possuem não são aproveitadas e podem, inclusive, perder-se parcialmente. Os comportamentos autistas podem acentuar-se, uma vez que não há reforço quando realizam comportamentos adequados e são repreendidos quando assumem comportamentos desadequados.

Grande parte das dificuldades resulta da incompatibilidade entre o seu modo de ser e as expectativas da sociedade dita normal, isto é, os autistas sentem-se como se estivessem numa cultura diferente da sua. No entanto, na realidade, cada aspecto da personalidade de um autista possui duas faces, uma negativa e uma positiva, por exemplo, o facto de não conseguir focar a sua atenção em várias coisas em simultâneo, tem como vantagem a “hiperconcentração” numa actividade só.

As crianças com PEA possuem inúmeras limitações, tanto a nível de competências de desempenho como a nível do meio envolvente. A ajuda profissional deverá ocupar-se não da “normalização” da criança que padece de PEA, mas do estabelecimento de um interface entre autistas e a sociedade, a fim de os dois poderem existir e funcionar em colaboração mútua. Assim, é da responsabilidade e dever de todos mudar esta realidade, afinal, no meio do nada existe o TUDO!


Para consultar um texto relativo às dificuldades que estas crianças encontram no brincar, clique AQUI.

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